Resultados do Ranking dos Laticínios de 2023
O número de produtores de leite no Brasil apresentou uma queda de 4,2% entre 2022 e 2023, de acordo com o Ranking dos Laticínios 2023, publicado em abril pela Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite). Em 2022, cerca de 44.890 produtores estavam ativos, número que diminuiu para aproximadamente 43 mil em 2023, resultando em uma redução de 1890 trabalhadores na produção leiteira nacional.
O ranking contou com a participação de 17 organizações do setor, sendo nove cooperativas e oito empresas privadas. Apesar da redução no número de produtores, a captação de leite dessas empresas aumentou 2,5%, passando de 8,5 bilhões de litros em 2022 para 9 bilhões de litros em 2023, um incremento de 500 milhões de litros.
Além disso, a Abraleite indicou um aumento na produção diária média nas propriedades, calculada com base no número de produtores ativos e na quantidade total de leite produzida. Em 2022, a média diária era de 426 litros, subindo para 471 litros em 2023, um aumento de 10,5%.
Análise do Mercado
Geraldo Borges, presidente da Abraleite, comentou que os resultados refletem a situação do mercado, com as indústrias comprando mais leite para aumentar a escala de produção e reduzir custos, mesmo diante de adversidades. Treze das 17 empresas participantes registraram aumento na captação de leite. Borges destacou que a redução no número de produtores é resultado do aumento de custos e da queda na rentabilidade.
Glauco Rodrigues, pesquisador da Embrapa, observou que a redução no número de produtores de leite é uma tendência global, não restrita ao Brasil. Ele explicou que a busca por ganho de escala para aumentar a rentabilidade é uma das principais causas dessa diminuição. Rodrigues ressaltou que o aumento nos custos de produção, especialmente de milho, soja e fertilizantes, impactou significativamente os produtores, particularmente a partir da pandemia. A segunda metade de 2023 foi especialmente difícil em termos de rentabilidade.
Importações e Impactos
Rodrigues explicou que o déficit na rentabilidade foi exacerbado pelo aumento dos preços no mercado interno em 2022, que levou à importação de leite do Mercosul, mantendo-se em 2023. As importações representaram 9% da produção inspecionada, um aumento significativo em relação aos 3% a 5% habituais.
Paulo José Cintra, presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado da Bahia (Sindileite), afirmou que as importações prejudicam a indústria leiteira nacional, que paga mais caro por insumos. Cintra explicou que essas importações são motivadas pela arbitragem cambial e pelo menor custo internacional, com o leite em pó entrando no Brasil a preços mais baixos devido a subsídios aos produtores estrangeiros e à situação econômica complicada desses países.
Expectativas para 2024
O aumento de 2,5% na produção brasileira de leite em 2023, combinado com as altas importações, resultou em um excesso de leite no mercado nacional, levando à queda dos preços de venda, que não acompanhou a redução nos custos de produção, diminuindo a rentabilidade dos produtores, especialmente dos médios e pequenos.
Apesar desses desafios, Cintra expressou otimismo em relação a 2024. Ele mencionou que a laticínio baiano Davaca prevê a maior safra de sua história para o primeiro trimestre de 2024. Estudos do Centro de Estudos em Economia Avançada da Universidade de São Paulo (CEPEA-USP) também sugerem um aumento nas cotações de leite cru nos próximos meses.
Cintra concluiu que as perspectivas para 2024 são positivas, com previsões de crescimento no mercado de leite, impulsionado por políticas públicas destinadas a financiar e apoiar a produção leiteira no país. Ele destacou a importância de os produtores estarem atentos às tendências de mercado e preparados para as transformações iminentes.