São Paulo — O ATR72 da VoePass, que caiu em Vinhedo, interior de São Paulo, na sexta-feira, 9 de agosto, já havia sofrido danos estruturais em março deste ano, quando a cauda da aeronave bateu na pista durante um pouso no aeroporto de Salvador, em um incidente conhecido como “tailstrike”. Além desse problema, a aeronave também apresentava falhas no sistema de ar condicionado e havia consertos pendentes.
Segundo um relatório de inspeção obtido pelo jornal O Globo, o tailstrike ocorreu em 11 de março, quando a aeronave estava em um voo de Recife para Salvador. Após o incidente, o avião foi enviado para manutenção e só retornou ao serviço comercial em 9 de julho, quatro meses depois. No entanto, logo após ser liberada, a aeronave enfrentou outro problema: uma despressurização durante um voo entre Ribeirão Preto e Guarulhos, o que resultou em novo retorno às oficinas. A aeronave voltou a operar alguns dias depois, em 13 de julho.
Ainda não está claro se o incidente em Salvador tem ligação com o acidente fatal em Vinhedo, mas essa é uma das linhas de investigação. Em entrevista ao programa Fantástico da TV Globo, no domingo, 11 de agosto, o comandante Ruy Guardiola, especialista no modelo ATR no Brasil, ressaltou a importância de verificar se as correções feitas pela VoePass foram adequadas para resolver os problemas causados pelo tailstrike.
Guardiola também mencionou um episódio onde um problema no botão do sistema antigelo foi improvisadamente resolvido com a colocação de um palito de fósforo ou de dente. Ele afirmou ter testemunhado essa solução e destacou a necessidade de investigar se uma falha no sistema de anticongelamento pode ter contribuído para a queda, que resultou na morte de 62 pessoas.
Além dos problemas de manutenção, a formação de gelo nas asas é uma possível causa do acidente, conforme sugerido por boletins meteorológicos do dia e por um acidente similar ocorrido nos Estados Unidos há 30 anos. A VoePass informou que, apesar dos problemas, o avião estava “aeronavegável” e atendia a todos os requisitos exigidos pelas autoridades.
O Que Se Sabe Sobre a Queda
O avião de prefixo PS-VPB decolou de Cascavel, no Paraná, às 11h46, com destino ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, com chegada prevista para as 13h50. Era a quarta viagem do dia da aeronave turboélice modelo ATR-72, que tinha 73 assentos. A bordo estavam 58 passageiros e 4 tripulantes. Todos os ocupantes morreram no acidente. Felizmente, ninguém em solo foi atingido, já que o avião caiu no quintal de uma casa.
Tanto as autoridades quanto a companhia aérea VoePass, antiga Passaredo, afirmam que ainda é cedo para determinar a causa exata do acidente, embora a formação de gelo nas asas seja a principal suspeita até o momento. A empresa reconheceu que o modelo ATR-72 é “sensível ao gelo” e que isso será um ponto central nas investigações.
Marcel Moura, diretor de Operações da VoePass, afirmou que o avião havia passado por uma revisão técnica de rotina na madrugada anterior, em Ribeirão Preto, sede da empresa, e que estava “100% despachada, de acordo com os manuais e regulamento” após a inspeção, estando apta para voar. A empresa garantiu que a aeronave decolou do Paraná em condições operacionais para cumprir o voo. Os últimos registros mostram que, momentos antes da queda, o avião estava a 5.190 metros de altitude.
Todas as vítimas eram de nacionalidade brasileira, principalmente de Cascavel e São Paulo.
