Após estabelecer presença no Subúrbio e em Cajazeiras, a facção expande seu alcance ao Centro Histórico com uma nova estratégia de mercado.
O Pelourinho, o cartão-postal mais icônico da Bahia, está há mais de uma década sob o controle da maior organização criminosa do estado, o Bonde do Maluco (BDM). Suas iniciais estão espalhadas por becos, ruas, muros e vários outros locais, marcando a força de seu comércio varejista de drogas. A proximidade com o Porto de Salvador é apontada por especialistas como o principal motivo para o Pelô, coração do Centro Histórico da capital baiana, estar atolado em insegurança.
“O porto continua sendo uma rota fundamental para o transporte internacional de mercadorias legais e ilegais, como armas e drogas, e isso não é diferente no Porto de Salvador. Apesar das inspeções amostrais durante o carregamento e descarregamento de contêineres, muitas dessas cargas ilegais saem dos navios que estão na fila para atracar no Porto de Salvador, especialmente quando chegam cruzeiros e embarcações maiores, que ocupam mais espaço no porto. A carga é transferida para barcos menores que completam o transporte,” explicou Wagner Moreira, do IDEAS Assessoria Popular e do Fórum Popular de Segurança Pública da Bahia.
O BDM, um dos grupos criminosos mais ativos e violentos da Bahia, surgiu em 2015 no Pavilhão V do Presídio Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura. Liderada pelo assaltante de banco Zé de Lessa, morto em dezembro de 2019, a facção nasceu como uma ramificação da então organização extinta Caveira, que se dissolveu em 2017. De forma estratégica, o BDM infiltrou-se em conjuntos habitacionais federais, como o Minha Casa Minha Vida na região do Subúrbio, antes de se expandir para outras áreas da cidade, como Cajazeiras. Em seguida, estabeleceram-se no Pelourinho, aproveitando outro fator crucial: o grande número de casarões abandonados.
“O Pelourinho ainda possui muitos imóveis vazios ou subutilizados, criando áreas extensas sem moradores ou atividade social. É uma região estratégica para armazenar armas e drogas que chegam ou saem pelo Porto de Salvador. Um estudo realizado pelo Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador (Ercas), órgão da Conder, identificou 1.300 imóveis vazios ou subutilizados em 2012,” observou Moreira.
O Centro Antigo de Salvador (CAS) compreende o Centro Histórico e seu entorno — um conjunto de dez bairros com valor histórico e cultural: Centro Histórico, Centro, Barris, Tororó, Nazaré, Saúde, Barbalho, Macaúbas, Liberdade (parte do espigão), Comércio e Santo Antônio Além do Carmo.
O especialista em segurança pública, Coronel Antônio Jorge, do curso de Direito do Centro Universitário Estácio FIB da Bahia, concorda com os pontos apresentados por Moreira e acrescenta: “Os casarões abandonados facilitam o tráfico porque os vendedores de drogas não mantêm grandes quantidades, apenas o suficiente para vender. Se forem presos, podem alegar que é para consumo próprio.”