Confira a coluna A TARDE Agro
O Brasil, notoriamente ruim em marketing agropecuário, cometeu um erro grave ao introduzir o “arroz do governo” em contraposição ao tradicional “arroz do gaúcho brasileiro”. Essa ação merece o título de “asno de lata” da propaganda, pois acabou saindo pela culatra.
Conversei com entidades e líderes importantes, que possuem dados e fatos sólidos sobre a questão do arroz. Este é um produto que precisa de ações para ser valorizado perante os consumidores, especialmente porque, à medida que a renda cresce, o consumo de arroz diminui. Ouvi representantes da Abiarroz (Associação Brasileira da Indústria do Arroz), da Federarroz (Federação dos Produtores de Arroz), e o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz. Todos foram unânimes em afirmar: “Temos arroz suficiente para abastecer o país; o desafio é apenas uma questão de logística, mas não há falta de arroz no Brasil.”
O que nos deixa perplexos é a incompetência na utilização do suposto risco de faltar arroz, um cenário negado por todas as entidades envolvidas na produção e industrialização. Em um momento de dor e sofrimento para o Rio Grande do Sul, que pede ajuda ao país e ao exterior, o governo transforma essa situação em uma ação de propaganda manipuladora, colocando nos supermercados o “arroz do governo” a R$ 4,00 o quilo, abaixo dos R$ 5,00 ou R$ 6,00 praticados no mercado.
Ações Mais Inteligentes e Éticas
Seria muito mais inteligente se o governo comprasse o arroz do Rio Grande do Sul a um preço justo para os produtores gaúchos. Em colaboração com a indústria e o comércio, poderia ser realizado um marketing ético, destacando que o arroz paga 7% de imposto nas transações do Rio Grande do Sul para o Estado de São Paulo, por exemplo. Importar arroz não é novidade; o Mercosul já permite importação com alíquota zero, e até abril de 2024, a Tailândia representava 18,2% do arroz importado pelo Brasil. Assim como no trigo, somos tanto importadores quanto exportadores.
O marketing ético, especialmente durante a tragédia no Rio Grande do Sul, deveria valorizar o produto local. Reduzir impostos até que a safra atual fosse escoada seria uma medida sensata. A importação deve seguir seus trâmites normais sem transformar isso em uma propaganda enganosa, que pode ter consequências negativas para o país nas próximas decisões sobre safras.
Falta de Planejamento e Sensibilidade
A ausência de um plano nacional de agronegócio destaca-se, e o bom senso deveria prevalecer, principalmente em situações tão dramáticas e emergenciais como esta. A decisão de lançar o “arroz do governo” foi péssima e polarizadora, demonstrando uma burrice administrativa, com todo o respeito ao animal. Neste caso, estamos falando do animal humano, ou desumano.